quarta-feira, 11 de agosto de 2010

We could sing our own but what would it be without you?

Não sei o que anda acontecendo, mas ultimamente, ando vivendo uma vida cercada de tragédias. Como dizia o sábio Fiódor Dostoiévski, "Temo somente uma coisa: não ser digno do meu tormento", citado várias num livro em que estou lendo de Viktor E. Frankl, estou sentindo na pele o que é viver um tormento. Mas qual é o meu tormento? Em que errei, afinal? Perdi uma prima semana passada, cometi vários erros essa semana, magoei a pessoa que mais amo e hoje tive uma outra triste notícia.

Estava saindo do trabalho mais cedo, caminhando pelo centro da cidade, fui na Rua XV encontrar meus pais quando topei com a mãe de uma amiga minha de infância - amiga há mais de 10 anos, daquelas que não saiam daqui casa, que dividia o lanche comigo na escola quando eu esquecia, e com quem eu briguei várias e várias vezes, mas que brinquei, beijei, abracei muito também. Começamos aquele papo de rua: "O que faz por aqui, blablabla whiskas sachê" quando decidi perguntar "E a Fulaninha (vou colocar assim pra preservar a identidade dela), tia?"


- Então Amanda, a Fulaninha tá internada.
- Sério, tia? Internada do que?
(Seus olhos se encheram de lágrima e ela falou com um ar de tristeza)
- Ela teve uma overdose, tomou 24 comprimidos de Rivotril. Encontrei ela em coma e levei correndo pro hospital.

Overdose. Tentou se matar, mas não conseguiu. Não era a sua hora ainda.

Aí que entra o livro de Frankl que eu citei no começo: o título é "Em Busca de Sentido". Sentido da vida, é claro. Vou resumir mais ou menos a história, é autobiográfica. O cara perdeu TUDO na época da segunda guerra, não tinha mais familia, nem amigos, nem nada, e estava sendo mantido vivo em um campo de concentração em situações desumanas em Auschwitz. Por ser médico psiquiatra, ao longo do livro ele faz uma análise do sentido da vida com base nas teorias da psicanálise, porque ele sempre esteve em posição de julgamento, mas nunca na de ser julgado, e nessas circunstâncias, sentiu na pele o que é querer morrer e lutar para viver. 

Como eu já disse no post anterior e acho que não custa nada reforçar, a vida é tão urgente, que quando você viu já passou. A vida é a maior dádiva do ser humano, do mundo, a única coisa que ninguém nunca soube explicar, mas todo mundo "tem". Enquanto uns lutam pra sobreviver, outros querem acabar com ela. E por que isso? Quaisquer que sejam os seus problemas, sempre há uma solução. Nesse caso (da minha amiga), eu até imagino qual tenha sido o problema, e é aí que a minha consciência pesa. Ela não teve ninguém pra mostrar pra ela que a vida é maior que isso, não teve uma amiga que pudesse oferecer um ombro quando ela precisasse, e eu tinha prometido à ela que independente da nossa distância, eu sempre estaria "alí" - o que me deixa muito mal em saber do acontecido quase uma semana depois.

Analisando a situação dela, ou do Viktor Frankl, vejo que ambos tiveram uma segunda chance. Uma segunda chance para corrigir seus erros, uma segunda chance para fazer as coisas direito. O autor fez um bom proveito dela, espero que a minha amiga saiba ministrar melhor sua vida, agora que 'nasceu de novo'. E assim como eu espero ter uma segunda chance para corrigir meus passos errados na vida.

Quando eu penso na mãe dessa menina, se ela vai viver remoendo esse sentimento de que a filha tentou se livrar de sua vida, eu lembro do que ela me disse quase soluçando em choro: "Ah, mas é a Fulaninha né.. Minha filha querida, minha filhinha amada."

A mãe a perdoou.

Um comentário:

  1. Parabéns pela iniciativa do blog!

    Gostei muito dos primeiros textos, que demonstram bastante maturidade e sobriedade, ao mesmo tempo que servem de mensagem para a reflexão dos leitores.

    Continue assim, um dia espero seguir seu exemplo e tirar meu blog do mundo das idéias. =)

    Beijo!

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